quarta-feira, 1 de julho de 2009

Diário de linhas curvas

Trinta e um do dois de cinco mil e nada

Já não basta a falta de sensações para criar, tenho também a falta de inspiração para me perturbar, nada é interessante, nada me fascina, tudo é objectivo e concreto, nada me desperta, tudo me aborrece. Não sinto mais que nada, mas perturba-me mais que tudo.
Diário bastardo, volta atrás nas tuas faces e vê, lê-me alto e a bom tom, o que um dia foi um belo som, uma bela orquestra de uma alma. Quando fui rei e senhor das palavras, criei castelos com tijolos delas, diria melhor: Impérios! As tuas páginas são prova de quantas terras conquistei e impérios se desmoronaram ao passar da minha pena, o derramar de tinta foi tão belo, tão cruel, tão genial, fui durante tantos anos um conquistador imortal.
Hoje não passo de um conto, ou uma lenda irreal, falta a prova de que consigo voltar a derrubar todo o mundo com um traço continuo do qual belas composições se formam e tudo a volta derrubam. Tudo começa a fazer sentido agora!
Sinto a tua essência a voltar, a minha pena tornasse um pássaro outra vez, das suas lágrimas faço a minha tinta, de mim crio a obra, o poder é tão grande que não é possível controlar, é tão grande que apenas uma folha não basta, um diário não basta, a minha mente não basta, é tão destruidor, tão sonante! Mas guardo para mim hoje, afinal já não há nada a fazer, pois hoje sou só eu o meu diário e um copo cheio de sangue mental para motivar o meu pensamento irreal.

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